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A MÃE DO GOLEIRO, UMA HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES maio 12, 2013

Posted by eliesercesar in Prosa.
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Ilustração de Pablo Picasso

Ilustração de Pablo Picasso

(Trechos da novela O azar do goleiro, de 1989):

“Apavorado. corri até a cozinha, onde mãe preparava o almoço, cantando com o sempre uma música antiga.
– Diga que é mentira, mãe – gritei ainda na porta.
– Mentira o quê, menino? – ela olhou-me surpresa – orre, não vê que estou ocupada?
– Que eu fui deixado na porta de casa e a senhora resolveu me criar.
Ela colocou as mãos nos quadris. bateu o pé três vezes.
– Quem lhe disse uma asneira dessa?
– Vavá – denunciei.
Mãe esfarinhou os meus cabelos. Que eu deixasse de acreditar nas besteiras do Vavá e fosse brincar. Claro que era mesmo o seu caçula. Ate perguntou se eu ainda não havia reparado que tínhamos os mesmos grandes olhos de preá assustada, os cabelos muito pretos e a boca pequena. Depois, com uma palmada na bunda, mandou-me brincar, prometendo que mais tarde daria um carão em Vavá.
Ao sair para a rua, já bastante tranquilo, cruzei com Vavá.
– Mãe vai lhe dar o seu mais tarde – avisei.
– dedo-duro. Não vai mais ao circo comigo – ameaçou ele.
(Página 13).

“Você sabe o que é ter um amô, meu sinhô.

Mãe gostava de cantar ao pé do fogão. Quando não tinha nada a fazer, eu ficava à soleira da porta da cozinha, ouvindo-a cantar. Era bom ter uma mãe, pensava. Como deveria ser triste a vida dos meninos que não tinham mãe; como Ruiberto, que não chegara a conhecer a mãe dele, mora poucas depois do parto”
(Páginas 18 e 19)

“Uma vez por ano, mãe levava eu Vavá para fazer exames na capital. Eu detestava aquele tipo de exame, pois tinha dificuldade para cagar a pulso.
– Vamos. Anda logo.
Eu agachado, espremendo-me num esforço danado e mãe ali, aomeu lado, exigindo que terminasse logo o serviço. Vavá, ao contrário, cagava com grande facilidade, bastava ele querer”.
(Página 33)

“Cheguei em casa sem fôlego, Mostrei o dinheiro a mãe. Ela me fez devolvê-lo imediatamente. Prometeu me bater, caso eu aceitasse dinheiro dos outros novamente. Falou que nunca alguma coisa me faltou em casa; que não estávamos passando necessidade e não precisávamos de favor de ninguém, muitos menos daqueles metidos a besta”.
(Página 33)

“Às vezes, mãe queria me obrigar a ficar em casa para que dedicasse mais tempo aos estudos. Eu precisava sair para o treino ou mesmo para um simples bate-bola. Por isso mostrava-lhe meu boletim.
– Poxa, mãe, a senhora quer notas melhores? Então não posso também me divertir? – apelava.
Como eram realmente boas as minhas notas, mãe terminava concordando com as saídas que eu dava.
– É, não são ão ruins, não – admitia mãe, examinando o boletim, – mas podiam ser ainda melhores.
-Ah, mãe, a senhora sabe que eu estudo todas as noites – desculpava-me, escapulindo em seguida para a rua”.
(Página 36)

“Quando eu já me preparava para ir à casa de Ruiberto, disputar a partida, ouvi de mãe a terrível notícia.
– A família de Edmunda vai embora amanhã, para a capital – disse ela a ái,q ue deu de ombros de ombros e continuou o cachimbo, enquanto lia o jornal.
Senti um frio na espinha. Meu coração bateu forte.
– Mentira – disse, sem pensar direito.
– Mentira o quê, menino? Quer apanhar na boca? – enfezou-se mãe.
Baixei a cabeça e olhei para o chão, permanecendo calado.
Mãe pousou a mão, suave, no meu ombro.
– Ah, já sei. É sua amiguinha – disse ela, com voz terna.
Fiquei envergonhado e achei melhor sair de casa
– Não demore muito – ouvi mãe dizer, antes de fechar a porta e ganhar a rua”.
(Página 40)

“Mãe chegou e ficou alisando os meus cabelos.
– Ha, mãe, me deixe – pedi, impaciente, desvencilhando-me dela e de pai.
Mãe quis ir atrás de mim.
– Isso passa. Deixe o menino – ouvi pai dizer”.

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